quinta-feira, 20 de maio de 2010

LIÇÃO DE VIDA

Lição de Vida
Autor desconhecido

A história de minha vida começa assim:
Dos 13 aos 40 anos, trabalhei para manter a família que meus pais colocaram no mundo. Pois, apesar de pobres, quase miseráveis, tiveram 14 filhos, sendo que um nasceu e logo morreu (quero dizer, morreu ao nascer.)
Havia entre esses 14 filhos um que era a esperança de nossa vida. Esse irmão tinha um futuro promissor, pois, além de estudar arquitetura, trabalhava com meu pai que era carpinteiro na construção civil. Entretanto o destino nos prega peças que não gostaríamos de nem imaginar. Meu querido e dedicado irmão morreu afogado na Lagoa da Petrobrás aos 26 anos de idade. Esse fato foi o começo do fim.
Esse jovem representava nossa segunda esperança entre os cinco homens. Não devemos deixar de mencionar aqui que haviam outros três filhos, mas estes não serviam para absolutamente nada. A morte desse jovem, em pleno início de vida, foi uma tristeza geral.
Meu pai, homem que, às vezes, pensava no futuro dos filhos (homens) colocou todos eles no Senai. Todos conseguiram, com muito esforço e dedicação, formar em alguma profissão. Mas, até hoje não compreendo por que razão, apenas o mais velho seguiu a profissão de Torneiro mecânico.
A vida mais uma vez veio nos trazer uma decepção. Meu irmão, Torneiro mecânico, casou-se aos 22 anos de idade e foi-se embora levando, mais uma vez, com sua partida, nossa esperança de uma vida melhor. Assim, voltamos à estaca zero.
Meu pai não acreditava na educação das filhas, pois para ele o papel das mulheres era choferar1 fogão. Pensando dessa forma, ele não deixou as meninas estudarem quando eram novas. Não sei porque, mas, o coitado, não teve sorte. Tudo dava errado na vida dele.
Agradeço a Deus por ele nunca ter tido vícios. Era um homem, íntegro, apesar de todo seu modo arcaico de pensar. O fato concreto é que ele não tinha sorte mesmo. Trabalhava duro, foi carpinteiro, ajudou a construir Brasília trabalhando pelas bandas de lá durante 6 anos.
Esse tempo de sua ausência foram seis anos de sofrimento e dor para a família que tentava manter-se de pé com dignidade. Sobreviver enquanto ele estava fora era muito difícil, pois ele raramente nos visitava ou mandava algum dinheiro pelo reembolso.
Choferar: Servir de motorista ou chofer.
Mas um dia Brasília ficou pronta e ele teve que voltar para casa após seis longos anos. Esse espaço de tempo, para nós, parecia sessenta anos. Ele voltou, mas, acreditem vocês ou não, mais pobre do que foi. E, se não bastasse tamanho descontrole financeiro, ainda ficou surdo por causa de uma pane no avião ao pousar no aeroporto de Belo Horizonte.
Meu pai nos deixou aos 96 anos e 5 meses mais pobre do que Jó. Na época de sua morte, ele pagava um aluguel caríssimo, pois não construiu moradia própria. Lembramos aqui o ditado: "Casa de ferreiro, espeto de pau." Foi carpinteiro a vida toda, mas não construi sua própria casa.
Todos os filhos o abandonaram, exceto dois. Não tinha nada na vida a não ser o dia e a noite. Pobre velho!
Voltemos agora ao que interessa: minha história, minha vida. Aos 40 anos meu pai, com ciúmes de mim , e, temendo que eu também abandonasse a família, falou-me assim: "Minha filha, venha cá. Se você não puder ficar sem o seu namorado, junte suas coisas e vá viver com ele." Meu pai não queria perder-me porque eu era como um verdadeiro burro de carga, suportando a família em todas suas horas difíceis.
O que meu pai não sabia é que eu teria coragem para isso. Minha surpresa foi tão grande diante de tal situação que entrei em choque. Meu eu interior deu um passo para trás e se rebelou.
Em silêncio, comecei a comprar minhas coisas. Meu objetivo era montar uma casa para mim e para meu namorado, que não era meu. Durante 4 longos anos, trabalhei para comprar tudo. Esse tempo foi grande porque, além de comprar minhas próprias coisas, tinha que destinar metade do meu salário para a casa de meus pais. Meu salário não era grande coisa. Minhas prestações, muitas, pareciam não ter fim. Paguei tudo durante 36 meses, 9 carnês e muito, muito stress.
Depois de muito esperar, muito trabalhar e muitas prestações pagas, chegou o dia da partida. Esse foi o dia mais difícil de minha vida. Não consegui trabalhar direito o dia todo, pois a ansiedade era sufocante. Até então não falava com meu pai a não ser o necessário. No final do dia de trabalho o procurei e disse: "Pai, lembra-se daquele dia em que o senhor me pegou de surpresa? Agora estou indo embora. Pode ficar sossegado que mandarei o dinheiro do aluguel todos os meses. Farei isto até o senhor arranjar outro emprego que o sustente ou se aposentar". A partir de agora, vejam vocês, eu teria de pagar dois aluguéis.
Além de prometer pagar o aluguel para ele eu também disse-lhe: "Pode ficar com o meu guarda-roupa. Eu comprei outro para mim." Lágrimas abundantes rolaram pelas faces de meu pai, mas ele não pediu-me para ficar (graças a Deus).
Naquele tempo, eu tinha alugado um barracão, mas fiquei por perto a fim de tomar conta dos velhos e do resto de minha família, apesar de não ser lá grande coisa. Eu não tinha objetivo de vida a não ser cuidar de meu velho pai e minha mãe. Após a morte de meu pai, restou-me, de mais importante apenas minha mãe. Mas, ela não teria coragem de abandonar a família para vir morar comigo. Minha mãe preferia comer o pão o que o demônio amassou com o rabo junto com eles. A ideia de abandoná-los não estava em seus planos.
Meu pai era realmente duro. Ele chorou quando eu parti, mas não teve coragem de pedir-me para ficar. Dos 40 aos 55 anos paguei aluguel. Foram, como podem ver, 15 anos. Eu trabalhava 24 horas por dia para sobreviver e ainda ajudava a família, pois meu pai não conseguia emprego devido a sua idade avançada. Minhas noites de sono eram insuficientes, pois, muitas vezes, não conseguia dormir pensando neles.
Depois da tempestade veio a bonança, a borrasca havia passado! Eu e meu namorado, que não era meu, conseguimos fazer uma casa. Nesse meio tempo, minha mãe, após 56 anos de casada, havia deixado o meu pai. Ela vivia um dia aqui e outro ali. Para seu sustento, ela recebia uma pensão de um salário do meu irmão que morrera afogado. Após muita e luta e planejamento, meus irmãos e eu construímos um barracão para ela junto de mim, todavia, uma nova desgraça veio nos abalar. Minha mãe morreu um mês antes de mudar. Ela morreu de tristeza, solidão e abandono. Faltou-nos alicerce familiar.
Quando tudo parecia não poder piorar mais, outro fato veio nos fazer ficar mais tristes: meu pai estava velho e sozinho. Não combinava mais com ninguém, virou um verdadeiro eremita (quer dizer, isolou-se do mundo). Diante dessa situação, veio o Assistente Social e, entre doze irmãos, ele voltou para mim depois de 15 anos.
Ele morava perto da minha casa, não dava trabalho, nem despesas. Estava velho, mais de 80 anos. Todavia era lúcido, normal, sadio, mas eu me preocupava. Sofri um acidente por causa dele, perdi meu emprego, fiquei em tratamento pós-queda por três longos anos. Meu namorado que não era meu, agora juntos há 30 anos, foi-se embora. Fiquei tão só que parecia que não havia mais ninguém no mundo além de mim.
Um dia Deus teve pena de mim e, simplesmente, chamou meu pai para outra dimensão aos 96 anos e 5 meses.
Fiquei terrivelmente só, com uma grande diferença!
Agora o velho sou "EU". E a história se repete...

1. Choferar: Servir de motorista ou chofer.

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